Contos


GÊNESIS
Minha vida seguia, e tomava os rumos que planejava. Havia acabado de me formar, e naquele momento, precisava sair um pouco e me encontrar. Quando decidi que iria para a faculdade. Já havia conseguido uma bolsa de estudos em uma boa faculdade local e decidi aceitar. Tudo ocorreu com muita naturalidade. Durante a semana ficava no campus e iria para casa nos fins de semana. Devido os estudos, não havia muito tempo para ir à igreja. Mas nem percebia o que estava acontecendo. Eu tinha um quarto apenas meu na república para meninas do campus. Ele não era como das outras meninas. Era simples, limpo, não havia pôsteres. Eu havia colocado uma cruz logo acima da cabeceira da cama, naquela parede branca, apenas por costume. Me sentia mais protegida de alguma forma. E era isso... ali havia apenas uma cama, um mesa de canto, uma escrivaninha para estudos, uma cômoda e uma estante de livros.
Nova rotina, novos hábitos, novas pessoas. Um dia desses , no campus, voltava a noite da biblioteca. O corredor do prédio estava vazio. Eu estava exausta. Apenas coloquei meus livros de lado, tirei a roupa e me deitei.
Acordei no meio da noite. Se motivo aparente. Levantei para tomar um copo d'agua e retornei a minha cama. Olhei para o relógio e marcava 03:30hs da manhã. Me deitei e adormeci. Pelo dia acordei confusa e atrasada. Meu relógio havia parado. Eu havia tido um sonho tão real que me fazia sentir calafrios de lembrar. Em meu sonho eu estava deitada e olhava para o teto. Via algo mais escuro que o turvo do quarto. Era como uma sombra. Eu não conseguia me mexer. Aquela sombra se aproximava cada vez mais, e quanto mais perto, mais eu sentia dificuldade para respirar. Até que acordei no outro dia com o clarear do sol.
Deixei pra lá e fui correndo para a aula. Durante o intervalo, minha vizinha de quarto sentou-se comigo.
- Muito prazer, sou Heloísa.
- Oi. Sou Ângela. - Disse a ela.
- Você é caloura, não é?
- Sim. - respondi.
- Me formo no próximo semestre. Estou me preparando para a minha viagem. Pretendo viajar aos maiores centros de religiões pelo mundo.
- Então você estuda religiões?
- Sim. Ciências das Religiões. Olha, eu não tenho aula mais por hoje, se importa se eu ficar com você? Ficar sozinha cansa ás vezes.
- Claro! Também estou livre por agora.
Então pegamos nossas coisas e fomos andando pelo campus.
- Não vejo a hora de me formar e conseguir sair daquele prédio. Sinto medo ás vezes.
- Nem me fale, Heloísa. Essa noite eu tive um sonho tão lúcido que deu medo. Isso me lembrou de que preciso consertar meu relógio. Ele travou durante a madrugada...
- Um sonho, é? Me conta. Eu acredito muito que os sonhos nos trazem mensagens. Posso ajudar, se quiser.
- Não foi nada . Sonhei que estava deitada em minha cama, não conseguia me mover. E via uma sombra no teto que chegava cada vez mais perto e que me sufocava aos poucos. Aí eu acordei pela manhã, atrasada justamente porque meu relógio parou.
- A que horas seu relógio parou?
- Ás 03:40hs da manhã.
- Ângela, você já sentiu algo do tipo?
- Não.
- Você não pode ficar sozinha hoje. Fique comigo hoje a noite. Algo pode estar te ameaçando.
- Como assim, Heloísa?! Olha, eu sou católica mas não paranoica. Como assim me ameaçando?
- Espiritualmente, Ângela. Precisamos nos livrar disso logo antes que tome você.
- Heloísa, chega! Já está me assustando...
- Venha. - Heloísa me pegou pelo braço e me arrastou até o quarto dela. Havia muitos livros.
- Olha, em uma das minhas aulas de antropologia, meu professor explicava sobre rituais para exorcizar espíritos indesejados. Deve ser o seu caso. Devemos tentar fazê-lo. Por favor.
Olhei meio desconfiada para Heloísa. Nós acabamos de nos conhecer e ela já está falando sobre exorcismo? Mas decidi tentar. Aquilo não seria nada.
- Tudo bem. - Cedi.
- Ótimo. Iremos precisar do que está dizendo aqui no livro. Eu devo ter.
Tratamos de arrumar as coisas e colocá-las em ordem. Começamos o ritual. Fizemos tudo como estava escrito no livro. Não esperávamos nada, mas estávamos receosas.
Nada aconteceu.
- Olhe Heloísa, acho que devo ir pro meu quarto. Não aconteceu nada. Viu? Não há nada.
- Tudo bem. Aqui está meu telefone. Qualquer coisa, me ligue. - Heloísa anotou o numero em uma folha de papel qualquer e me deu.
Entrando em meu quarto, comecei a me sentir estranha mas não liguei. Peguei meus livros e me sentei para estudar. Senti uma sensação de que estava sendo vigiada. Peguei meu celular e disquei o número de Heloísa. Caiu na caixa postal.
"Ok, tudo bem, é tudo fruto da minha cabeça. Estou apenas assustada por causa daquela bendita história de ritual...". Pensei.
A sensação de desconforto foi aumentando. A luz da minha luminária começou a piscar. Dei umas batidinhas e voltou ao normal.
A janela do meu quarto começou a bater e entrava um vento muito forte. Corri para o outro lado do quarto mas fui arrastada pra trás pelos tornozelos. Senti uma pressão muito forte contra meu corpo e já não conseguia manter o controle sobre ele. Eu estava em pé. Mas não estava no controle. Saí do quarto e comecei andar pelo corredor. Até que apareceu um grupo de pessoas e apenas levantei a mão e todos foram arremessados para longe. Continuava andando. Meu corpo continuava andando por assim dizer... Até que parei e virei para o lado, em frente a porta de um dos quartos e ela se abriu de maneira violenta. Havia várias pessoas lá, em uma festa particular. O som foi desligado e comecei a sentir uma força e um ódio enorme me dominando.
As pessoas começaram a me olhar e reclamarei sobre a música ter parado até que apenas com o virar dos olhos eu conseguia quebrar o pescoço das pessoas como se fossem brinquedos. Comecei a gostar de verdade da sensação de ver todos ali assustados e correndo pra fora daquele quarto deixando tudo pra trás. Sensação de poder corria sobre meu corpo. Segui a multidão até fora do prédio jogando pessoas para longe, quebrando seus ossos frágeis como galhos de árvores secas e finas.
Eu seguia adiante. Até que estava frente à Heloísa. Ela me olhava com uma expressão de medo, mas ao mesmo tempo eu conseguia ver compaixão em seu
olhar. Aquilo começou a me tocar. Mas não tocar apenas o meu corpo, mas a mim interiormente. A minha alma. Eu conseguia sentir a minha alma e não mais um vazio.
Heloísa se aproximava cada vez mais. Meu corpo queria apenas quebrar cada osso existente no corpo de Heloísa, fazendo-a parecer um boneco não articulado mas minha mente estava forte o suficiente pra perceber o sentimento que estava sentindo. Heloísa se aproximava, sem medo. Como ela poderia não sentir medo? Ela viu o que eu poderia fazer com ela. Me sentia cada vez mais no controle do meu próprio corpo. Até que ela se aproximou e sussurrou em meu ouvido:
- Você acha mesmo que está sozinha? Eu não estou com você. Mas ele está.
Então comecei a sentir total descontrole e já não era dona de mim.
Tudo que me lembro depois disso, foi de acordar em quarto acolchoado e sem janelas. Sem saber onde estava.
Havia apenas um jornal jogado perto de uma única porta de aço daquele cubículo. Peguei. A manchete dizia:
"O pior massacre da história completa 3 anos." E estampava a foto da faculdade em que eu estudava. O jornal datava 31/10/2019. Quando abri o jornal havia um pequeno bilhete em que dizia: "Parabéns pelo ótimo trabalho, Ângela. Foi ótimo fazer acordo com você. P.S.: você sempre será minha. Heloísa."




Apenas um brinquedo, série 
Você Nunca Estará Só

Annabelle era uma criança doce. Procurava ser gentil com todos os seres. Seu mundo era repleto de compaixão e respeito. Em seu mundo, os ursos de pelúcia podiam se comunicar. Mas o que mais aguardava no dia, era a hora em que poderia conversar com sua amiga. Conversavam por horas. Até serem interrompidas por arrombamentos em sua porta. Seu pai chegava para dar boa noite. Logo após vinha sua mãe, com água escorrendo pelo rosto marcado e vermelho. "Deveria estar emocionada. Ter sua filha que tanto amava, viva por mais um dia era um milagre divino que dava motivos para emoções". Ela se inclina para dar um beijo de boa noite e se desculpa. Todas as noites.
Ao ouvir o som da porta se fechando e a chave rodando, fechando a tranca, Annabelle se virava, com o corpo dolorido e encarava a parede turva até o amanhecer, enquanto voltava a conversar com sua amiga novamente. Ela, inocente, se via como uma criança normal, assim como as outras.
Todas as noites eram assim. Os mesmos arrombes, o mesmo beijo de rosto molhado da mãe. A mesma parede durante a noite.
Em um desse dias, a mãe de Annabelle deixou que ela saísse do quarto e pudesse brincar pela casa. Da sala, ela começou a ouvir gritos e batidas que pareciam vir da cozinha. O barulho aumentava cada vez mais, até que se tornou tortuoso de ouvir e ela foi até lá. Logo na divisa entre os cômodos, ela viu sua mãe caída, sangrando e seu pai andando nervosamente de um lado a outro. Sua mãe se esforçou para se levantar. Uma raiva imensa queimava dentro de Annabelle. Em um momento de choque, sem perceber, se esbarrou em um bule de ferro que ficava na quina da mesa da cozinha, que acabou caindo fazendo um barulho fino ao tocar o chão. O pai de Annabelle a olhou com olhos odiosos. Sua mãe se levantou rapidamente quando viu sua filha em pé, em frente aos dois. O pai correu até Annabelle. Ela se virou e começou a correr impulsivamente até que sentiu um puxão forte pelas costas. Seu pai a agarrou pela blusa e a prendeu em seu corpo fazendo com que ela se virasse. Enquanto seu pai a batia, socava e a jogava várias e várias vezes contra o chão, Annabelle tinha a visão de sua mãe, a poucos metros, com olhar de satisfação. "Porque, mamãe?". Era só o que Annabelle conseguia sussurrar. Sua boneca jogada no chão... Estas foram as últimas coisas que viu antes de sua visão escurecer.

Sobre Tudo o que Aconteceu

Luíza sempre foi extrovertida. Até acontecimentos do passado, como a separação de seus pais e a vinda da adolescência mudou-a por completo. Essa mudança continuou até seus dezenove anos, mas chegarei lá. Sempre foi uma aluna nota dez e seus pais sentiam orgulho dela. Até que no ensino médio suas médias foram caindo e sua vontade de fugir das pessoas apareceram. Ela simplesmente queria distância. Apenas ler seus livros, escrever e ouvir suas músicas preferidas, além de navegar na internet.
Durante o Ensino Médio, em escola nova, conseguiu ser popular. Mas aquilo só a fez ficar ainda mais vazia. Percebeu que amigos de verdade importavam mais que vários colegas "legais".
Meses foram se passando e mudanças internas acontecendo. Ela já não era mais a mesma. Já não era aquela garota extrovertida que sempre fora e seu rendimento caía cada vez mais. Até que ela não aguentou. Correu para os braços de seu melhor amigo e lhe contou o que estava acontecendo. Das coisas ruins que sentia, da mágoa sem motivo, do sentimento de dor.
Seu amigo lhe abraçou, e lhe ajudou a seguir o caminho. Um caminho duro. Mas Luíza caminhou.
Um passo de cada vez.
Até o momento que não aguentou a pressão do padrasto e de sua mãe e saiu de casa.
Fora uma das decisões mais difíceis a ser tomada. Mas a convivência estava insuportável. Brigas e mais brigas. Luíza já não aguentava mais aquilo. Não conseguia se dedicar aos estudos. Nada mais lhe dava prazer. Só queria fugir para bem longe.
Ficara dois anos longe de casa. Vivenciou várias coisas que não experimentaria se estivesse com os pais. Experimentou coisas que não deveria para sua idade.
Mas isso a fez crescer e voltou para a casa de sua mãe na promessa de uma vida melhor. Difícil no início. Mas foi melhor. Luíza era outra pessoa. Começou a se tratar. Voltou a escola. A vida não seguia fácil, mas não era tão difícil quanto antes. No segundo ano do ensino médio conheceu um jovem rapaz, colega de escola. Falavam-se pouco. Até que no último ano estudaram na mesma classe.
Como era difícil se levantar pela manhã todo santo dia para ir ao colégio. Mas ele estava la. Escondido.
E Luíza cada vez mais afastada de tudo e de todos, na companhia apenas de seus livros e de seu computador. A única mudança de rotina fora um curso que fazia aos sábados.
Luíza fora para o turno da noite. Não aguentava mais se levantar todas as manhãs e seu colega a acompanhou. Fora logo após de sua transferência de turno.
O tempo ajudou com que os dois se aproximassem. Viraram amigos. E a amizade crescia cada vez mais, até que em um passeio escolar ele resolveu se declarar. Não foi surpresa alguma para Luíza, já que os dois estavam muito próximos.
Em meio a tudo isso, Luíza lançou um conto em uma antologia de contos de terror e nascia aos poucos uma paixão imprevisível entre os dois amigos.
Houveram altos e baixos, mas retomaram mais forte que nunca.
Essa é minha história, por enquanto. E em outubro de 2015 completamos um ano juntos.

Diana
Diana sempre foi uma garota que, desde pequena já chamava a atenção de outros pela sua inteligência. De cabelos longos e negros, era como uma amazona. Deixava-os soltos, a balançar naturalmente. Toda a sua família eram judeus. Menos seus pais, fazendo com que Diana acabasse não seguindo esse caminho e indo para Inglaterra estudar Direito.
Tempos após, Diana recebeu uma carta, onde dizia que sua família viria da Espanha, sua terra natal, mas foram pegos por pessoas que se diziam estar a comando do rei Aragão. Rei ambicioso, que via apenas a si e que se aproveitou da "onda" da Inquisição, para levar adiante negócios próprios, enquanto clamava ao seu povo contra a heresia e a falta de fé cristã.
Sem saber o que fazer, retornou a carta e logo estava fazendo suas malas e partindo rumo à Espanha. Uma Espanha sangrenta, violenta que nunca havia visto antes. Logo, foi recebida por uma conhecida que lhe disse:
- Você não pode ficar aqui, mocinha! Fizeram-se o que fizeram com seus pais, imagine o que farão com você!
- Então tudo é verdade, Lady Ina?
- Sim, minha família, sua família. Todos...
- Bastardos! – gritou Diana – Eles não tinham esse direito! Torturar e matar adultos e crianças!
- Diana, não culpe aos capangas... Eles estão a mando do rei. Fazem isso em troca de comida, teto e proteção de suas famílias.
- Por que minha família, Lady Ina? Por quê?
- Eles tentaram fugir para a Inglaterra, minha filha – disse Ina afagando Diana em seu colo. – Infelizmente foram pegos antes de chegarem à fronteira. Por mais que o caminho fosse longo, o rei descobriu e mandou homens atrás de todos eles... Eu fugi. Estava perto da porta da carruagem, então me joguei beira abaixo quando percebi que havia nos descoberto. A morte pra mim, naquele momento, seria melhor do que qualquer tortura que estaria por vir...
- Pois foi uma fraca! – disse Diana em um tom grosseiro e choroso - deveria ter ficado e ajudado meus avós!
- Sim, Diana. Fui e sou uma fraca. Eram vários homens... O que poderia fazer, eu, uma senhora? Você não deveria ter vindo Diana. Você estava bem com os ingleses. Tem um futuro próspero. Volte imediatamente! Aqui não é seu lugar! E se te descobrirem, logo irão atrás de você.
- Lady Ina, como seria descoberta em um porão de uma velha casa de vilarejo? Além do mais, esse rei irá me pagar. Por tudo o que fez a minha família.
- Não, minha filha... Não faça nada. Apenas vá! – implorou Ina. – vá, menina!
Diana apenas a olhou por um instante com a mesma cara que fazia quando iria aprontar algo quando criança.
- Lady Ina, não ficarei em paz enquanto não acabar com o rei e toda essa sangria. Queira a senhora ou não.
- Se quer ir para a batalha, precisará de um forte. Pode contar com meu teto, minha filha.
Diana foi para o quarto de hóspedes. Nada luxuoso, mas muito confortável. Diana desfazia suas malas sentindo certa nostalgia de quando criança e corria pela casa de Ina, que lhe penteava seus longos cabelos enquanto olhava pela janela que dava para o chafariz... Diana olhou para a janela. Aquele velho chafariz já não havia agua. Havia nada... Só conseguia pensar em como sua família sofreu, torturados por uma acusação que não havia fundamentos... Seguir outra religião nunca foi um pecado. Isso não é de forma alguma heresia.
- Se aquele rei quer sangue em suas mãos, que seja o dele mesmo! – disse em tom sussurrante. Terminou de arrumar suas malas e fora para a cozinha, onde estava Ina.
- Já ia lhe chamar Diana! Venha! Acompanhe-me na refeição.
Ina conhecia Diana desde muito nova. Ela era uma velha conhecida na família, e tinha um apreço por Diana.
Após a refeição, Diana foi para o quarto. Fechou-se em seu mundo ao se deitar. Fitava o teto, enquanto pensamentos passavam por sua cabeça... Até que ouviu grito vindo de fora da casa, que a fez despertar-se. Eram homens levando uma mulher. Diana apenas observava pela janela... Sem reação. Nunca havia visto tamanha brutalidade, até que levaram tal mulher em uma carruagem... Diana, apenas olhava... Até a carruagem sumir no breu da noite escura. Nesta noite Diana não dormiu. Era madrugada, quando pegou de suas coisas. Um sobretudo encapuzada e saiu madrugada a fora pelas ruas escuras e vazias... Apenas alguns comerciantes começando a abrir seus mercadinhos... Andava pela sombra para não ser notada. Conhecia aquele lugar como a palma de sua mão. Caminhou até o palácio do rei. Apenas observava. As luzes estavam apagadas. O dia estava a nascer e já se percebia movimentos da criadagem. Até que o viu pela janela. Observava de longe...
Já era noite quando Diana voltou para a casa de Ina.
- Onde estava, Diana? Preocupei-me durante todo o dia! Como você some do nada!
- Apenas observando Lady Ina... Apenas observando... – disse Diana calmamente, subindo os degraus.
- Quer que eu leve o jantar até seu quarto? – gritou Ina da cozinha.
- Por favor, Lady Ina! Ficarei grata!
Várias madrugadas Diana dedicara a observar o rei. Passava horas e horas ali, tentando achar uma brecha para que pudesse entrar em sua corte. Mas aquilo era como um forte. Nem do alto da mais alta das arvores Diana conseguia invadir. Foi quando lhe ocorreu a ideia de se passar por algum empregado e, assim, conseguir chegar aos pertences do odioso rei Aragão. Fora para a casa já anunciando a Ina que partiria em breve de sua casa.
Logo pela manhãzinha Diana já partia. Deixara um bilhete para Ina:
"Você ainda saberá de mim. Obrigada por tudo." – Diana.
E partiu determinada, sem olhar pra trás. Era como se finalmente ela poderia viver em paz. Depois de recebida, anunciaram-na ao próprio rei, que logo gostou dela. Uma moça educada. Aragão tirou-a dos serviços de empregada e a colocou como sua assistente pessoal. Olhares invejosos de todos: "como uma reles garota poderia estar ao lado de um grande rei como Aragão".
Logo se descobriu que além de espanhol, Diana era fluente em inglês e latim.
- Muito inteligente a senhorita. Deve ter tido uma bela educação. Além de bela és culta. - Disse-lhe Aragão se aproximando por detrás de Diana, acariciando e cheirando seus longos cabelos.
- Não, meu rei. Não tive a oportunidade de estudar formalmente. Roubava livros. Prestava atenção nas pronúncias de cada detalhe das palavras.
- Mas e o latim?
- Fiquei um tempo escondida em um templo.
- Escondida?
- Andei aprontando pelas ruas, meu senhor.
Em seguida Aragão a segurou em seus ombros com firmeza, ainda por detrás da moça.
-Então tu és uma travessa!
Dizendo-lhe isso, rasgou lhe a parte da frente do vestido que usava e a puxou contra sua vontade. Diana, em um golpe, o chutou pelas partes baixas e saiu de seu escritório.
"Porco nojento!" dizia Diana já em seus aposentos. Mas precisava continuar. Precisava permanecer na casa.
Pela manhã, Aragão, após o café da manhã foi até a sala de estar. Diana tocava o piano de calda lindamente, até Aragão pressionar a palma de suas enormes mãos ao piano.
- Insolente! Como ousas? Pensas que és quem, sua mulher da vida?!
- Me desculpe meu rei. Não quis ser insolente, apenas aproveitei um tempo livre... e havia tempos que não tocava. Não resisti.
- Pois resista! E volte ao trabalho.
Aragão se pôs pensativo, "uma mulher não seria tão prendada vivendo nas ruas." E foi aos seus aposentos aliviar tensões reprimidas há certo tempo.
Diana tinha livre acesso ao escritório de Aragão. Aproveitou-se do momento e foi vasculhar por seus documentos. Encontrou uma pasta com papeis e documentos que, sem duvida, eram ilegais. Pegou-o e colocou em meio a panos de mesa, assim que percebeu que Aragão vinha em direção.
- Deixe-me só! – Disse aos berros Aragão.
Diana saiu e voltara aos seus aposentos com a desculpa de que não se sentia bem. Trancou e teve certeza de que não seria interrompida. Em sua cama, começou a ler todos os documentos. Ficara a noite toda em claro. Mas aquilo que descobriu não poderia ficar impune. Guardou muito bem a pasta e foi ao encontro de Aragão, que se preparava para sair.
- Diana fique aqui! Tome conta de meus negócios enquanto não estiver aqui.
Diana consentiu com a cabeça. Era a deixa perfeita. Já que outros empregados eram proibidos a entrarem no escritório de Aragão, sempre trancado. A única cópia das chaves eram a de Diana que seguia ordens de trancá-la enquanto estivesse trabalhando. Diana fora imediatamente ao escritório assim que a carruagem de Aragão sumiu ao horizonte. Diana percorreu por cada livro, por cada estante, descobrindo todo o reinado sombrio e oculto de Aragão e seus comparsas. Houve lhe tempo suficiente para ter o que procurava e a certeza da morte de seus familiares. Mas precisava de muito mais. Precisava de mais tempo para acabar com aquilo de vez. Precisava de maior confiança de Aragão. Recolheu alguns documentos tendo a certeza de que não deixara rastro e saiu do escritório logo que Aragão chegava a sua corte. Correu sorrateira até as escadas. Subiu e logo que chegara a frente da porta de seus aposentos, antes que pudesse destrancá-la, uma das empregadas que fora selecionada junto com Diana pegou-a em seu braço fortemente e a colocou contra a porta. Começou-lhe sussurrar próxima de seu rosto. Diana sentia sua respiração em sua pele "eu sei que você pode nos ajudar, sei que pode acabar com ele e toda esta loucura." Diana ficou parada, imóvel. Não piscava. Estava em choque. Ninguém deveria saber de seu propósito, mas ao voltar do transe, a empregada já havia ido e ela simplesmente entrou em seu quarto, trancou a porta e colocou uma cadeira na fechadura como um reforço a mais. Já não estava mais segura na mansão. Tinha que agir rapidamente. Juntou todos os documentos que havia roubado, colocou seus poucos pertences em sua mala e decidiu ir embora naquela mesma noite.
Aragão a chamava aos berros. Aguardava em seu escritório e a pediu para se sentar. Deu-lhe um papel onde estava escrito vários tipos de torturas. Como torturas com água em que se pretendia colocar litros de água na vitima por um funil. A vitima seria completamente imobilizado com a barriga para cima. Ou onde a vitima era posta nua sobre um cavalete de madeira em forma de "V" onde as partes mais agudas ficavam entre as pernas e pesos eram presos entre os pés e a vitima ia-se, aos poucos sendo cortada ao meio. Aquilo chocou e revoltou Diana. Foi tomada por um ódio muito intenso. Mas não demonstrou. Apenas devolveu o papel.
- Essa será uma de nossas sentenças àqueles que não cumprirem às nossas ordens.
- Quais ordens seriam essas, meu rei?
- Não é da sua conta, vadia desprezível. Apenas não terão conhecimento de suas consequências caso sejam pegos desrespeitando de minhas autoridades.
Diana se viu sem rumo. Não poderia deixar que aquilo continuasse. Os documentos que tinham não afetariam o rei e ela acabaria morta ao meio. Ela precisaria daqueles documentos que fora acabado de mostrar. Mas esses ficavam guardados a chaves pelo rei. Diana, então resolveu se levantar. Já era noite e ela usava um vestido em que conseguia ver pelos olhos de Aragão que ele a desejava. Diana, passando a mão de leve, caminhou lentamente até o rei, que se mexeu um pouco surpreso em sua cadeira. Diana colocou seus braços em volta de Aragão e chegou ate sua nuca, onde o sentiu se arrepiar.
- Eu sei que você me deseja.
E virou a cadeira de Aragão, montando-se nele, fazendo com que o vestido se levantasse. Aragão a pegou forte e beijou todo o seu colón. Diana se mexia encima dele conforme mudava os documentos, colocando papeis aleatórios no lugar. Ela sentia repulsa, mas Aragão acabou por dominá-la ali mesmo como um animal. Sem pudor, como se estivesse dominando uma égua. Logo levantou suas calças e a mandou sumir dali. Diana pegou os papeis e fugiu ainda naquela noite.
Havia uma tempestade horrível, mas Diana chegou pela manhã na casa de Ina.
- O que está fazendo aqui, minha filha? Está toda ensopada! Não acredito! Você enfrentou a tempestade pela noite. Entre já! Tome um banho! Deixe que eu leve sua mala.
- Obrigada. - Disse Diana.
Subiu ate o quarto de hospedes e tomou um banho quente, imaginando se a corte já teria dado sua falta. Logo após, desceu. Ina chamou para comer. O dia estava ensolarado após a terrível tempestade da noite anterior.
- O que aconteceu, minha filha?
- Tudo Ina! Descobri tudo! E preciso de sua ajuda! - Diana retirou as pastas e espalhou todos os documentos pela mesa.
- Não acredito Diana! Você pode ser morta por isso!
- Mas antes, mostrarei toda a verdade!
- Minha filha, isso não envolve só ao rei, isso envolve a você também! Não acredito que você seja descendente de Joana D'arc! Diana, se isso cai em mãos erradas, não consigo imaginar as consequências.
- Preciso de sua ajuda, Ina! Preciso expor estes documentos publicamente
- Mas como, Diana.
- Ainda não sei, mas descobrirei!
Assim, Diana passou a procurar outros meios de não ser reconhecida. Em meio a pesquisas e fontes, Diana se encontrou com Marco, um revolucionista que estava disposto a derrubar Aragão. Passou-se a encontrar-se em um porão, num casebre que ficava em meio a um beco. Marco e Diana planejava um golpe frio. A família de Marco era completamente contra Aragão e se dispôs a reunir em praça pública uma assembleia, na qual, segundo eles, discutirão interesses políticos populares, impossíveis para a época. Aragão foi completamente contra e enviou seus exércitos.
- Rei Aragão! Ordeno-lhe que fique a frente de seu povo! Que tipo de rei se covardia perante a uma população injuriada? Venha! Suba a este palanque que foi feito especialmente a você! - gritava Antônio, pai de marco. Aragão saiu de sua carruagem e fora escoltado até o palanque.
Marco se pronunciou:
- Durante todo o seu reinado, as pessoas vivem em caos, medo, discórdias! Mulheres eram estupradas e mortas até mesmo em frente às suas famílias...
- Como ousa falar assim de seu rei, fedelho insolente! Condeno-te em nome todos que estão aqui! Levem-no! - seu exercito se calou.
Diana se pronunciou:
- Eu, Diana Giovanno D'arco, descendente de Joana Dar'c, A Donzela de Orléans mostro a cada uma das pessoas presentes, documentos que comprovam toda a farsa deste homem, que em nenhum momento soube o que foi ser um rei de verdade. E com sua condenação e posse de marco Giacommo, declaro abolida a inquisição. Levem Aragão até a cela. Sua sentença será amanhã ao meio dia.


Nenhum comentário :

Postar um comentário

Topo